sexta-feira, 16 de julho de 2010

Vou me embora pra Pasárgada!

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Manuel Bandeira

Bilhete

Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

.....tem de ser bem devagarinho,
.....amada,

.....que a vida é breve,
.....e o amor
.....mais breve ainda.

Mario Quintana

Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo “olha, não dá mais”. Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo,mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo?
Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu “mas agora eu to comendo um lanche com amigos”. Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não voltava pra mim?
Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia.
Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito. Decidi ser uma mulher mais feliz, afinal, quando você é feliz com você mesma, você não põe toda a sua felicidade no outro e tudo fica mais leve. Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu.
Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos e filha única Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que eu tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim. Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida.
Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres,rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris.
Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar.Resultado disso tudo: silêncio absoluto.
O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele. Até que algo sensacional aconteceu. Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher que eu acabei me tornando mulher demais para ele. Ele quem mesmo?

Marta Medeiros é genial! Vão aparecer muitos textos dela por aqui ainda...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Encontrar tal expressividade é raro. Shakespeare é uma grande referência. O modo realista e, ao mesmo tempo, romantico exacerbado de como ele encara a vida traduz em seus textos arrebatadores, como este:

"A morte que sugou todo o mel de teu doce hálito poder não teve em tua formosura. Não; conquistada ainda não foste; a insígnia da beleza em teus lábios e nas faces ainda está carmesim, não tendo feito progresso o pálido pendão da morte ... Aqui, sim, aqui mesmo fixar quero meu eterno repouso, e desta carne lassa do mundo sacudir o jugo das estrelas funestas. Olhos, vede mais uma vez; é a última. Um abraço permiti-vos também, ó braços! Lábios, que sois a porta do hálito, com um beijo legítimo selai este contrato sempiterno com a morte exorbitante. Vem, condutor amargo! Vem, meu guia de gosto repugnante! Ó tu, piloto desesperado! lança de um só golpe contra a rocha escarpada teu barquinho tão cansado da viagem trabalhosa. Eis para meu amor."

Romeu e Julieta
Ato V - Cena III

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Planos..

Planejar é uma coisa complicada. Primeiro que nunca saberemos ao certo o que ocorrerá no dia seguinte ou o quanto nossa vida pode mudar de um minuto para outro. Planos à longo prazo podem ser uma canoa furada, um jeito provável de se entrar em uma crise de identidade ou então de se perder completamente na vida.
Quando crianças, traçamos uma rota de vida que normalmente inclui passar de ano no colégio, namorar, se tornar um profissional, casar, formar uma família, ter filhos... a idealização de uma vida perfeita. Mas o tempo vai passando, nossos objetivos e focos vão mudando, e agora a ideia de casar e ter filhos não agrada tanto. O objetivo de passar de ano continua, a de se tornar um profissional permanece, porque o colégio nos remete a pensar nisso. Namorar já não é algo tão sério agora, o lance é "ficar". As obrigações estão maiores, mas a dependência é algo prazeroso, ainda.
Perto da formatura de Ensino Médio é então que a ficha começa a cair (ou deveria), que vemos quão amplo é o mundo, quão cheio de rotas ele é. Tudo o que nos era certo passa a ser pouco, queremos conhecer tudo até decidirmos onde por certo seguir. A formatura chega. Hora de um novo mundo. As decisões da profissão tomadas (incertas, por certo), mas agora todos os planos, todos os planejamentos que já estavam meio confusos na hora de decidir a profissão, entram em total "parafuso". Agora nada mais está certo do que acontecerá, somente uma coisa, é hora de romper o cordão umbilical da dependência dos pais e gritar como Dom Pedro I: Independência ou morte!
Todos os seus planos foram ralo abaixo, um mundo novo começou. Você percebe, então, que os panos não existem à longo prazo. Mas, se nesse momento você insiste em querer segui-los, pode acabar entrando em depressão, porque a vida já mudou e você não se tocou ainda.
A ideia de viver cada dia por sua vez se torna algo obrigatório e é preciso aprender a viver assim. Os planos já não existem, a não ser para a agenda do dia seguinte, agora tudo o que você tem são sonhos. Mas os sonhos não são frustrantes como os planos, porque os sonhos são o alento do dia a dia, são a fulga, o prazer, e não a obrigação. Agora você sabe que pra ser feliz e viver bem não se pode planejar a vida, pois é preciso vive-lá. É preciso sonhar e deixar os sonhos alçarem voo.
Taís Prass